Carolina e a boneca de trapos
- Inês Frade Pina
- 6 de jun. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 7 de jun. de 2019

Um dia já quando o sol se tinha escondido e a lua aparecia a brilhar com as estrelas por companhia, a Carolina preparava-se para dormir.
Dentes bem lavados, pijama vestido e já estava pronta para um longo e descansado sono.
Ainda estava a pensar no dia que passou. Era o seu aniversário e tinha recebido de presente uma boneca nova. A boneca era tão bonita. Dizia algumas palavras. Tinha uns vestidos que se podiam trocar. Um cabelo da cor do sol.
Com um gesto imediato, atirou a sua velha boneca de trapos para um canto e logo colocou a sua boneca nova no seu lugar, perto de si para que lhe fizesse companhia a adormecer.
De repente, quando tudo estava em silêncio olhou para a frente e deu um grande salto na cama.
Não queria acreditar e disse:
- Boneca de trapos que fazes aqui?
A sua boneca de trapos tinha ganho vida e conseguia agora falar com ela.
- Sou um trapo que gosta de estar perto de ti. – respondeu-lhe a boneca.
- Mas que podes ser tu com tanto farrapo? Nem vestidos novos tens, nem um cabelo de seda da cor do sol. – disse a menina.
E a boneca de trapos disse:
- Sou só eu, assim mesmo, corpo de trapos e um coração.
E responde a menina:
- Com tanto trapo não terás mais atenção.
- Terei a minha e de quem gostar de mim e de mais não terei de precisar. - disse a boneca a sorrir.
- Será mesmo assim? Não acredito. – responde novamente a Carolina.
E a boneca:
- Pois acredita, porque é assim que eu sou e não o deixarei de ser.
E a menina:
- Mas porque não podes mudar? Eu até gosto de ti mas com tanto farrapo…
Diz a boneca:
- Se não gostas dos meus trapos, não gostas de mim.
A Carolina ficou por uns instantes a pensar no que a boneca lhe estava a dizer.
Lembrou-se de todos os momentos que passou com a sua boneca de trapos. Quando tinha medo, quando estava feliz, quando saía para um sítio especial. Olhou depois para a sua boneca nova que estava mesmo ao lado dela e por fim disse:
- Acho que percebo o que dizes dos trapos e do teu coração.
- Então que percebes? – perguntou a boneca de trapos.
E a Carolina respondeu envergonhada:
- Percebo que estás comigo quando preciso, que os trapos não mudam o que está dentro de ti. Percebo que é na diferença, e por seres de trapo que te consigo apertar sem me magoar, e percebo que nunca poderei viver sem ti. A boneca nova ocupará um lugar mas no teu não pode ficar.
Nisto a boneca de trapos andou até aos braços da menina e juntas num abraço deixaram-se dormir.
A Carolina percebeu que o seu coração é grande e que todas as bonecas cabem. Cada uma com o seu canto, cada uma com o seu abraço, cada uma com a sua brincadeira, cada uma com o seu espaço.
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